top of page

a fotografia aliada

Por Vandria Borari

As primeiras imagens fotográficas feitas pelo Kariwa (homem branco) para aprisionar a vida e história dos povos indígenas trazem um olhar eurocêntrico do colonizador: as imagens registradas retratam um índio “selvagem” e exótico, com fotos de valor documental de mapeamento e de pesquisa.

Por anos, a produção fotográfica era feita por pesquisadores e fotógrafos profissionais que em suas expedições científicas adentravam os territórios indígenas, registravam e desapareciam levando a imagem das pessoas do local visitado. Antigamente eram poucas as pessoas que tinham condições de comprar uma máquina fotográfica para registrar a própria história, seu dia a dia e preservar a memória familiar.

Hoje, as produções fotográficas são feitas por nossas próprias lentes, que tentam romper a imagem do indígena de 1500 anos atrás.  Além disso, o uso de celulares e outras tecnologias não nos faz ser menos indígenas, pois a fotografia fortalece nossa identidade, mostra nossa trajetória de vida, criamos nossa própria narrativa visual e nos tornamos autores de nossa própria história.

No entanto, o racismo institucional não perdoa nós indígenas ao uso das tecnologias digitais, em termos elas como aliadas para o registro, o fortalecimento da nossa cultura e a defesa do território.  Como prova disso, em 2021, o ex-ministro Ricardo Sales em uma fala racista postou em suas redes sociais “a tribo do Iphone”. Em mais um episódio de racismo que sofremos, nós povos indígenas do Baixo-Tapajós, fomos até Brasília em uma manifestação pacífica protestar contra a liberação de madeiras ilegais na Reserva Extrativista Tapajós- Arapiuns, ação feita pelo próprio Ministro em nossa região. E em frente ao ministério do Meio Ambiente o uso do celular foi para provar que o ex-ministro não quis nos receber.

Neste cenário de tomada de território e tentativa de apagamento de identidade é onde o protagonismo indígena na fotografia e o audiovisual vêm se fortalecendo, por detrás das lentes das máquinas fotográficas, das câmeras e celulares, nós indígenas registramos e testemunhamos os crimes ambientais que nos afetam e afetam nosso território.

Para nós povos indígenas a fotografia é uma ferramenta de luta, ela serve como prova que já estávamos em nosso território muito antes de ter o turismo, a especulação imobiliária, as empresas madeireiras, o garimpo ilegal, os campos de soja e os grandes empreendimentos que estão sobre nossas terras.

No plano frontal, mão da irmã de Vandria Borari segurando álbuns de fotografias da família, ao fundo, Vandria e outra irmã vendo fotografias
bottom of page