Tupinambá
Durante décadas, a identidade indígena dos tupinambá do Baixo Amazonas sofreu um apagamento. Os indígenas tinham medo de identificar sua etnia, manifestar práticas culturais e se comunicar na língua tradicional, o Nheengatu, conhecido como língua geral amazônica. Foi durante o processo de criação da Reserva Extrativista Tapajós Arapiuns, nos anos 1990, que essa identidade indígena foi resgatada.
A Resex acabou sendo estabelecida em 1999, mas desde então, os tupinambá vêm fortalecendo seu reconhecimento enquanto povo indígena dentro da unidade de conservação. A partir de 2017, eles começaram um processo de autodemarcação de seu território, abrindo picadas no meio da floresta para delimitar as fronteiras das aldeias.
Atualmente, são mais de vinte aldeias do povo Tupinambá dentro da Resex. O projeto Álbuns Originários visitou quatro delas, na companhia da coordenadora geral do povo indígena, Raquel Tupinambá, e mergulhou nas memórias de suas famílias.
Entre os povos visitados para o projeto, os Tupinambá são os que tiveram acesso à fotografia mais recentemente, devido à distância entre as aldeias e o centro urbano de Santarém. Fotografias anteriores à década de 1990, portanto, são raras nos álbuns das famílias visitadas.








Constância Rocha Marinho

Constância Rocha Marinho tem 63 anos e vive em uma casa construída a poucos metros da antiga casa de seus pais, na aldeia Santo Amaro. Mas ela não morou a vida toda na aldeia. Aos 13 anos foi para Santarém trabalhar como empregada doméstica. Hoje, ela tem consciência de que trabalhava em regime análogo à escravidão. “A gente apanhava dos outros, trabalhava noite e dia e não ganhava nada”, lembra. Ela estudou apenas até a terceira série. Hoje, seu neto, Lucas Tupinambá, cursa ciências políticas e faz parte da coordenação do Conselho Indígena Tupinambá.
“A gente era um povo escondido, não podia se identificar para qualquer pessoa. Muitas palavras indígenas a gente largou de falar porque falavam que era errado. Mas quem é filho de Tucunaré, é tucunarezinho, quem é filho de índio, é índio. Nós nascemos aqui, somos indígenas e indígenas morreremos” - Constância Rocha Tupinambá


“Naquele tempo era mais difícil tirar foto, quando tirava era só para documento que tinha acesso. Aí as fotos que têm são mais recentes. Antes nossas correspondências eram bilhetes. A gente não tinha barco, ia de canoa, passava uma semana para ir para a cidade. Aí depois surgiu o barco de linha, e quem tinha mais condição, mandava os filhos para estudar" - Constância Rocha Marinho


Naide Rodrigues dos Anjos

Naide tem 49 anos e nasceu na aldeia Muratuba, mas se mudou para a Santo Amaro em 1997, para trabalhar como professora na escola da aldeia. Vive com seu marido, Janervânio. Em 1999, ela comprou uma câmera analógica e passou a tirar fotos dos alunos e das atividades escolares. Ela é quem tem mais álbuns de fotos na aldeia.

Rosina Rodrigues Braz

Rosina tem 78 anos. É a caçula dos nove filhos de Flaviano e Teodora Rodrigues Braz. Sua família vivia na aldeia Jauarituba, e ela se mudou para a Santo Amaro quando se casou. Rosina conta que nunca achou que fosse se casar, e os irmãos diziam que ela tinha que “arrumar homem” para não ficar sozinha. Acabou se casando com Miguel Braz, uma grande liderança tupinambá. Miguel foi um dos primeiros coordenadores do Conselho Indigenista Tupinambá Arapiuns. Ele faleceu em dezembro de 2020, e desde então Rosina vive sozinha. É mãe de Janervânio, que também vive na aldeia Santo Amaro.



Cacica Delcineia e
pajé Salustiano

Delcineia é cacica da aldeia Jatequara. É filha de Salustiano, pajé da aldeia, que conhece muitas histórias de encante da região. A família encontrou apenas duas fotos antigas nas suas pastas de documentos. Na escola da aldeia, no entanto, fotos recentes, tiradas com celular, mostram a produção de farinha de mandioca.



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Remildes Vasconcelos Gomes e
Orivaldo Caetano Gomes

Remildes e Orivaldo têm 62 anos, quatro filhos e 16 netos. Ela é professora na aldeia Jauarituba, e tem um projeto de diário no qual escreve sua história e a história da aldeia. “Gosto de cantar, rezar e lecionar” escreveu em uma das páginas. A maior parte das fotos que guarda são 3X4s da sua família.
"O território é importante porque nos traz permanência. A gente vive da mandioca, do pescado, da caça, a gente bebe o tarubá, o mingau de farinha. Comemos uchi, abacaxi, afinal de contas, sempre estivemos aqui. Aprendemos aqui. Me sinto feliz de estar nessa terra, me sinto muito grato. Somos indígenas e a gente acredita muito nesse resgate" - Orivaldo Caetano Gomes

